24 de abril de 2017

Pensando em você

A menina levantou-se. O dia ainda estava escuro. Lavou o rosto. Tomou café. Estava indisposta. Vestiu o que achou pela frente. 'Pra quê se arrumar?' Olhou no relógio: Estava Atrasada. Correu. O caminho de casa até a estação do metrô durou um século. Correu. Eram apenas duas quadras. Correu. Casacos tombavam nela. Pessoas. O metrô havia chegado. Apressou-se. 'Ufaa'. Olhou para o vagão que costumava tomar. Ainda tinha esperança. Olhou para o banco que costumava sentar. Vazio. Olhou-o por um longo período. 'Você deveria estar aqui'. Sentou. Olhou para os lados. Vazio. Sentiu-se só. 'Ele foi  mesmo embora'. Correu os olhos pelo vagão. De fato o trem havia chegado sem ele. Olhou pela janela. Ficou observando a cidade cinzenta. Desanimou-se. Escola. Sua cadeira estava vazia. 'Onde estarás?' Podia senti-lo dentro de si. Podia senti-lo em seus pensamentos. 'Oh, distância que mata'. A aula havia começado. Mas seu pensamento estava longe. 'Será que estarás pensando em mim?' O sino soou. 'Mas já?' Saiu sem falar com ninguém. Correu pra casa. Se jogou sobre os travesseiros. Não tinha fome. Chorou. Saudade... Num realçe olhou sobre sua mesinha. Um diário antigo. Folheou-o. Um pequeno pedaço de papel caiu de dentro. Tomou-o nas mãos. Era uma fotografia. O coração pulsou forte. Parecia que ele estava ali. 'Será que  você pensa em mim?' Passou a tarde sentada no parapeito da janela olhando pro nada. A tarde parecia  sem graça. Estudar era inútil porque a única cosa que conseguia pensar era nele. 'Queria dizer que te amo ... Pena que você não mais está aqui'.  Ligou o toca-fitas. A voz de Westlife invadiu o quarto: 

Uma certa vez eu estive apaixonada/E agora eu estou simplesmente desabando/Não há nada que eu possa fazer, é um eclipse total do coração /Durante algum tempo houve luz na minha vida/ E agora só há amor na escuridão/ Nada que eu possa dizer.

Lembrou-se de quando ele se foi. 'Razões pessoais' O táxi chegou e o levou embora. Ela havia ficado parada. Chovia. E então tudo acabou. Vazio. Solidão. 'Acaso pensarás em mim?' A estação estava vazia. Já estava cansada de ouvir suas próprias lágrimas. Nos contos de fadas Príncipes  e Princesas, matam o dragão e vivem felizes para sempre. No seu caso o Enorme Dragão levou seu coração embora... 'Parece que quem venceu foi a bruxa cruel... O que sonhamos será que se perdeu? Onde você estará agora? Algum dia você voltará?' Olhou o metrô que passava. Pessoas embarcavam e desembarcavam. Ela esperava. 'Eu sei que você nunca será quem eu sempre quis... Mas  você sempre será a pessoa que me aceita como eu sou...' O metrô das 7:30 havia chegado. Olhou. Um rapaz desceu dele. Vestia-se largado. Botas do TG. 'Seria ele?' Correu. De costas o vulto continuou a caminhar em direção a saída da estação. Correu. O vulto continuava a caminhar. Correu. Tocou-lhe o ombro. Ele virou-se. Era apenas um estranho. Desculpou-se.'Estaria ficando louca?'  O seu fone começou a tocar o refrão: Eu realmente preciso de você esta noite/ O para sempre começará hoje à noite.  'Começaria, mas você não está aqui'  Mais uma lágrima caiu. 'Essa saudade acabará?' 


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