21 de maio de 2023

Preciso de você...

"Reli o começo da carta, mas não consegui entender direito o que eu pretendia dizer, sei que pretendia dizer alguma coisa muito especial a você, alguma coisa que faria você largar tudo e vir correndo me ver ou telefonar e, se fosse preciso, trazer a polícia aqui para obrigá-los a deixarem você me ver.

Eu sei que você quer me ver.

Eu sei que você fica os dias inteiros caminhando atrás daqueles muros brancos esperando eu aparecer.

Eles não deixam, acho que você sabe que eles não deixam.

Não vão deixar nem esta carta chegar às suas mãos, ou vão escrever outra dizendo que eu não gosto de você, que eu não preciso de você.

Mas é mentira, você tem que saber que é mentira, acho que era isso que eu queria dizer preciso escrever depressa antes que eu me esqueça do que eu queria dizer era isso eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro ou do outro lado."

Caio Fernando Abreu 

Uma das decisões mais importantes que você vai tomar na vida

é com quem você vai ficar.

Quem é a pessoa?

Quem você vai ser quando estiver com ela?

E se é a pessoa com quem realmente você que ficar.

Esse é o risco que você corre quando entregar seu coração a alguém

e pode ser partido em um milhão de pedaços,

e ás vezes, mais de uma vez.

Ele tem razão.

Eu ando pensando muito nele.

Claramente.

Pensei que se colocasse tudo em palavras pudesse me sentir melhor.

Querido diário: não acredito mais no amor...

Em todas as minhas memórias sempre fui uma pessoa fascinadíssima pelo amor.

Cresci assistindo filmes de comédia romântica da sessão da tarde;

Li todos os livros da coletânea Sabrina, Júlia, Bianca que vendia a R$ 2,50 na banca em frente a minha escola.

As músicas que embalavam meus sonos eram as do álbum Love hits, anos 80/90 - quando ganhei meu diskman do meu padrinho - especialmente as de Roxette, The Police, Elton Jhon e Whitney Houston.

Meus olhos brilharam de alegria quando meu sacramento da Crisma - na igreja católica- foi a última preparação anterior ao sacramento do matrimônio.

Sempre usei laços, vestidos, pouca maquiagem, cabelos longos e cacheados, para que passasse uma vibe romântica para as pessoas. 

"Guardei" - a grosso modo - minha virgindade até os vinte e dois anos de idade, acreditando que eu a "perderia" com aquele que fosse o amor da minha vida. 

Eu era a última romântica.

Mas nada disso meu deu um amor de verdade.

Vivi amores bonitos e falidos, os famigerados: amores da vida. 

Todo esse preparo "pré-amor" não meu deu um amor que também valorizasse o romantismo.

Meu primeiro amor não foi romântico, não foi bonito. Sempre que lembro dele sinto tristeza, lembro do quanto eu chorei por achar que amar SÓ doía, totalmente o contrário daquelas baboseiras do que eu tinha lido nos livros.

Das duas vezes que ganhei flores foi quando terminei o relacionamento, isso depois de ter sofrido tanto e descoberto muitas traições.

Trauma de flores check.

Achei que meus amores seguidos me dariam a oportunidade de dançarmos na chuva enquanto ouvíamos "I Will Always Love You" de Whitney Houston.

Percebi que muitas pessoas casadas traiam seus cônjuges independentes do matrimônio e de relevância dentro da igreja.

Todo meu jeito discreto e desengonçado foi se tornando imperceptível diante de qualquer outra garota "gostosa" que estivesse no mesmo raio que o meu. 


(...)

O quanto o amor romântico me machucou.

Muito.

Não me arrependo de ter amado MUITO. Me arrependo de ter me doado demais. 

De ter acreditado demais. Me importado demais.

Todas as vezes que fui demais, sai mais machucada sempre mais do que o outro. 

Com o tempo me tornei resiliente, prática e decidida.

Troquei os filmes românticos por suspenses policiais.

Os livros de coletâneas da Harlei Queen por True Crimes, Psicologia e os de Feminismo. 

As músicas Love Hits por Pop.

Ajustei o vestido, escureci a maquiagem e cortei o cabelo.

Me privei do sentindo de me sentir mulher, passei a gostar menos de sexo e achar que meus sentidos/desejos não fosse algo que precisassem ser levados tanto em consideração a dois.

Me transformei, me transtornei e me desviei de todos os caminhos que me levassem ao amor.

E claro que mesmo depois de tudo isso: me enganei. 

Voltaria a ser quem eu era antes dos 22 anos?

Não.

Eu eu era muito ingênua, fantasiava e idealizava uma felicidade que não duraria 6 meses.

E não durou.

Sou grata por minha trajetória do amor, tudo que eu passei me tornou uma mulher madura e disposta...

Disposta a encarar todo o bastidor do amor, aquele que fica por trás de uma encenação fantasiosa das que criaram nos filmes/livros/músicas sobre o amor. 

Ainda acredito no amor.

Acredito no casamento e na constituição de uma família, acredito na felicidade genuína e  espontânea, no amor mesmo nos dias difíceis, na entrega completa e na admiração após a descoberta de todos os defeitos. Na construção do amor.

Mas do amor real, do amor disposto. Do amor recíproco e correspondido.

Amor é um constante exercício de resolver, descobri e realizar desejos